A primeira coisa importante a ser compreendida sobre essa droga é que ela é nada mais nada menos que a cocaína, tendo apenas o modo de refino como diferença. O fato de ser fumado faz com que 90% da cocaína consumida entre rapidamente em contato com a corrente sanguínea, diferente da cocaína na forma inalada, que leva apenas 20% do que é ingerida ao sangue.
A importância principal do crack envolve tanto fatores naturais e artificiais. Do ponto de vista natural está o fato da facilidade de dependência que promove. Agindo na área cerebral responsável pela sensação de recompensa, ele traz para o usuário importante sensação de euforia e poder. Os indivíduos se sentem completos e mais corajosos, atingindo um grau de satisfação que só outra pedra poderia lhe proporcionar. Como todos os entorpecentes, com o passar do tempo, o corpo desenvolve tolerância e uma pedra deixa de trazer a sensação inicial. Assim, para se repetir o grau de satisfação, torna-se necessário aumentar a dose de droga consumida e assim sucessivamente.
No que tange sua atuação social, o dependente atinge o apogeu de marginalidade. Seu dia passa a ser dedicado a apenas planejar como se conseguir mais drogas e toda a vida do individuo alheia a isso perde valor. Roubar para conseguir a substancia é uma opção viável. Prostituir-se também. Não é a toa que consumir uma pedra de crack implica em um aumento em 17 vezes do risco de morte violenta e em 8 vezes o risco de se contrair o HIV.
Atualmente se discute muito a internação involuntária para dependentes de crack. O fato é que o dependente grave perde a capacidade de governar a si próprio de forma que as necessidades básicas como comer ou se aquecer cedem lugar em importância para se intoxicar com a droga. Internar compulsoriamente um dependente é assumir temporariamente a direção da sobrevivência do individuo, de modo a devolver-lhe um corpo mais sadio e proteger-lhe de si mesmo. A internação contudo não pode ser vista como solução para o problema.
Livrar-se dessa droga exige um tratamento multidisciplinar de longo prazo e uma eterna autovigilância do usuário. Colocar o individuo em um ambiente protegido para afastá-lo da droga é fácil. Integrá-lo a sociedade é extremamente difícil. Mas totalmente possível.