A anorexia nervosa é o principal tipo de transtorno alimentar e o único diagnóstico em psiquiatria relacionado a causa primária de morte. Fato é que 20% dos pacientes portadores de anorexia podem morrer por conta desta doença.
A anorexia nervosa (AN) é bem mais prevalente em mulheres do que em homens, na proporção de 20:1. Também é uma doença de início bem precoce, por volta dos 14 anos de idade.
Múltiplas podem ser as suas causas e vão encontrar raízes na genética, causas biológicas e sociais. Sabe-se que transtornos alimentares podem ser mais prevalentes dentro da mesma família, mas entre irmãs não tem causa estabelecida uma vez que pode ser um comportamento aprendido.
Além das causas genéticas, temos também a possibilidade de haverem causas biológicas. A serotonina, a dopamina e a noradrenalina podem estar envolvidas. Elas também são os mesmos neurotransmissores envolvidos no desenvolvimento da depressão e de outros transtornos.
Os fatores sociais também têm um papel importantíssimo no desencadeamento da doença. Isso pode ser confirmado pela maior prevalência em sociedades nas quais as pressões por padrões estéticos são mais fortes, como por exemplo nos países desenvolvidos.
Em relação ao quadro clínico, temos de primeiramente considerar o seguinte, anorexia, quer dizer literalmente falta de fome, o que de fato não ocorre nas fases iniciais do transtorno, trata-se literalmente de uma limitação dietética auto imposta de forma a controlar o peso que a maioria das pacientes acredita ser excessivo.
As pacientes acreditam que seu comportamento em relação à comida é plenamente justificado, uma vez que sofrem de uma severa distorção da imagem corporal, embora muito magras ainda se sentem com peso acima do normal e esperado por elas.
Inúmeras são as complicações a que podem acontecer decorrentes deste comportamento, desde desidratação, desnutrição até interrupção dos ciclos menstruais e morte por arritmias cardíacas.
A depressão está fortemente associada a anorexia e pode ser um dos fatores que levam às tentativas de suicídio tão frequentes entre estas pacientes.
Um longo tempo pode ser necessário para que a família perceba que o problema existe, mas fato é que na maioria dos casos, quando os sinais de alerta se tornam evidentes a doença já está instalada.
Sim, porém o tratamento é longo e exige uma equipe multidisciplinar, para trabalhar os diferentes ângulos do transtorno.
Mas a família é parte fundamental na recuperação das pacientes uma vez que em muitos casos a anorexia pode ser fonte constante de conflitos familiares. Desta forma, todo o núcleo familiar deve estar sob cuidados.
Fato importante é que, quando diagnosticada e tratada adequadamente, a recuperação completa pode acontecer em muitas ocasiões.
O objetivo principal deste texto é o de alertar sobre a gravidade e a real existência desta doença.
Assim como tantos outros assuntos, como sexo, já são corriqueiros nas famílias é importante observar e acompanhar o crescimento das adolescentes.
Perda excessiva de peso, comportamento obsessivo em relação à comida, evitando persistentemente alimentos que engordam, a presença de vômitos provocados e, o mais importante, o medo excessivo de engordar podem ser sinais claros de alerta para que seja feita uma avaliação mais pormenorizada do caso.
Dra. Samanta Calfat – psiquiatra da Clínica Vínculo